quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Agreste

Manacá,Tarsila do Amaral
óleo s/ tela 76 x 63,5 cm,1927


Coração do outro é terra que ninguém vai.
Nesse agreste pedregoso o que resta é pó.
Pó da terra que sou feito,das ruínas e dos espinhos que ornam os verdes cactos.
Espinhos das poucas flores que sobrevivem da esperança e o sol
Esse sol...
sol que castiga,molesta,pára o tempo e me faz andar nesse círculo procurando
sombra pra repousar
Encontro sombra de dúvida,medo do incerto e pó
Só restou aqui a pegada,a poeira e o pó
Caminhando sem destino nessa terra de ninguém,perdido nessa imensidão do coração
vou atrás de água no anseio de trazer vida e a flor, que por mais espinhos que tenha e
pela lonjura que agora está, jamais deixou de exalar  perfume e emanar beleza em meio as pedras do chão.

Menina flor de cacto,que suscita dos espinhos a beleza,
Que espera chuva pra desabrochar
Repouse sobre o agreste do meu ser seu doce perfume,
inebrie-me com seu perfume para que eu não perceba em mim os espinhos fincados

Certo menina,que a vida não é um mar de rosas,mas em meio as andanças
encontramos flores,amores,sabores
Então...
Acalentado pela água ribeirinha que logo secará
Dando lugar ao que era pó,
pois de tudo só fica o pó,
Bate o pé
Levanta poeira,
suspiro e pedra quente
Só resta pó
Atravessando o agreste a procura de rios intermitentes
Ansiosa sede
Engolida pelo pó






segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Escolha

Escolher viver por aquilo que lhe faz se sentir verdadeiramente vivo não é fácil.Abrir mão daquilo que nos deixamos tornar para dar lugar aquilo que realmente somos.
Hoje vivo um tempo assim,descubro que maus hábitos e falsas concepções alimentadas por mim durante anos levam tempo para se dissiparem e que a medida que essa falsa identidade é quebrada virtudes são redescobertas,afetividades são restaurada e me abro então para relacionamentos saudáveis que me fazem sentir seguro e cuidado.
Numa sociedade hostil como a que vivemos as experiências efêmeras e vazias tentam de toda forma suprir vazios que nossa alma jamais entenderá.Quando a euforia e o clímax passavam o que me restavam eram  vazio e a sensação de incapacidade.Levado pelas sensações equivocadas da alma,movia-me impulsionado pelos escapes ilusórios que a vida me proporcionava.
Sempre quis ser aceito por todos,bem visto o todos os olhos e por isso secretamente alimentei em meu interior a ideia de que se me mostrasse atraente ,seguro eu poderia conquistar meu espaço diante de todos.Enquanto me empenhava nisso dentro de mim o cansaço era constante,muito eu exigia de mim para manter a fachada da minha vida inabalável,mas tem uma hora que não aguentamos mais segurar as colunas dessa ilusão.Hoje só restam escombros de uma cidade assolada pela vaidade,soberba,mentira e dor.
Romper com a imagem que criamos de nós para dar lugar a alguém verdadeiro não é fácil,nessa jornada de encontro com nossa verdadeira essência as dúvidas surgem,a dor a tanto tempo escondida vêm a tona e o pior de nós muitas vezes é exposto,mas diante de todo esse árduo processo vemos o benefício de se lutar pela verdade que estava adormecida em nós.
Para alguém que sempre quis ter o controle sobre sua vida chegar a ponto de descobrir que a fé é a única segurança que tem,faz dele criança novamente e a vida não é temida como antes,mas passa a ser uma descoberta.
Estou reaprendendo,disposto a extirpar de mim maus hábitos,romper conexões nocivas e alimentar em mim aquilo que é puro,digno e verdadeiro.Nesta nova fase sei que a disciplina e a dor poderão me ensinar muito mais pois para cada uma delas existirá plenitude de amor e segurança.
Agora percebo que tudo que vivenciamos só vale a pena quando isso gera em nós crescimento e mudança.Tenho por certo que a imutabilidade nos engessa,tornando-nos insensíveis a sabedoria dos velhos e a pureza dos meninos.Lutarei pra ter um sorriso mais franco e uma esperança nos olhos.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Fugindo do Espelho


Jeune Fille Devant Un Miroir ,
Menina Diante de um Espelho,
1932,Pablo Picasso;Óleo sobre tela.



Desprendi-me de muitas coisas em meio a essa caminhada.Aprendi que ser sincero consigo é o ponto de partida pra se descobrir quem realmente é,mas ainda sinto-me desconfortável com a ideia de não ter mais recursos pra fugir do espelho que está diante de mim.
Enxergar-se como alguém que pode ser muito diferente do que imaginou ser me assusta.Tudo que foge ao meu controle sempre me assustou.
Um dia descobrirei  o motivo pra tamanho medo do inserto.
Luto pra fazer a minha história,mas no fundo sei que ela já está escrita por Alguém que melhor sabe escrevê-la.