terça-feira, 9 de setembro de 2014

Uma resposta sobre minha produção artística

Muitos me perguntam porque não escrevo projetos para exposições minhas, ou porque não mostro tanto meus "trabalhos".
Daí eu hoje refletindo acredito ter uma resposta:
Entendendo a função do artista e sua relação com o seu tempo.Não me conformo em apenas mostrar um resultado estético ou uma reflexão ainda rasa sobre algo.
Entendo que o processo artístico vem com amadurecimento,mas não acho justo me negar a olhar para a construção da arte que não apenas reflete,mas que faz e sempre fez parte dos fundamentos da sociedade.

"O artista atento ao seu tempo." Essa frase tem me perseguido a algumas semanas e compreendo que exprimir questões em "resoluções visuais" não  é uma tarefa fácil assim.Na contradição,nos desdobramentos de cada questão abordada pelo artista,a consciência do tempo em que vive,a construção histórica das linguagens e as ressignificações delas na arte devem estar contidas em seu processo.
Pensando nisso vejo que o presente é construído pelo passado e se tratando de arte nos dias de hoje vejo que a diferença entre o ver,o enxergar e o observar.

Vejo-me então como um artista em processo,não preocupado com uma carreira em produções visuais,mas no desejo impulsionado pelo olhar,pelo sentir, pelo refletir que possibilite o outro a ver,a perceber e a se identificar.


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Duras Pedras

Sempre começo a escrever lastimando a minha falta de ânimo de sair da cama e da inquietude dos pensamentos insones pra escarrar aqui minha impetuosa necessidade de repensar minhas experiências.
Mais uma vez aqui estou,debruçando-me sobre letras,tentando traduzir a certeza de que colhi o que plantei.
Sempre tive consciência do quão maravilhoso e assombroso somos nós,homens,seres capazes de construir,desconstruir e acima de tudo reconstruir.Com palavras nos unimos,com elas também afastamos,nos gestos nos acolhemos e também nos usamos.
Pensando nessa incrível debilidade vejo que eu também sou mero agente e reagente desta roda viva que é a vida e isso sido tão árduo esse aprendizado.
Ainda repenso sobre que parâmetros obtenho minha liberdade,se a minha felicidade é obtida a custas dos outros ou se pra alguém se dar bem é necessário que alguém perca.Se vencer tem suas mortes,então qual é o gosto da vitória diante dos "se"s que existem nos outros caminhos que existiram antes de chegar a ela?
Não quero levar em meus ombros as incertezas,mas quero poder lidar com minhas inconstâncias na realidade comum de que todos nós erramos e que muitas vezes este erro nos leva a  sabedoria,aquela digna que só se tem quando se é vivida.
Não se apaga o passado,não se apaga as consequência dos atos,mas se assume os estragos e se repara e se reconstrói caminhos.A nobreza de um homem está na capacidade de reconhecer seus erros,e a mim, no tempo certo, a vida se encarrega de me trazer a capacidade de exercer tal virtude.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Maior de todos os clichês

Complicado é achar que toda música que ouço
é você dizendo o que desejo ouvir.
O medo de perder sem ao menos arriscar ter
 pode ser sintoma de que fui rendido ao maior de todos os clichês.
Acostumei muito fácil com sua presença e
morro de ansiedade só de pensar em não te ter atado a mim
por encantamento que talvez seja mero capricho meu.
Minha ansiedade te  devora de olho grande e aos detalhes,
sua boca ,seus dedos,sua orelha,seu cheiro.
Pensamento inquieto que vem todo dia pulsar como enxaqueca
 trazendo seu rosto latejando em minha cabeça.
Dor de cabeça deliciosa,
dói como  dor que desatina sem doer,
febre em fogo que arde sem ver.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Avesso

Você escarra verdades que me viram do avesso
Entrego-me em risos nervosos por perder a razão
Eu digo lisonjeios que em minha mente são transliterados e expressos como insultos
Só pra disfarçar a insanidade de te querer

Faço drama,cena na rua, chamo sua atenção
e lhe desdenho como se nunca precisasse do seu tempo
Contradição gostosa quando em gentilezas e força me detém num abraço
Sou seu oposto,você minha metade
A gente se compõe,pinta e borda,
se adapta...



Escrito ao som de "Faz Parte do Meu Show."

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Imaginação

Acredito que o ardente desejo de pertencer a outros mundos vêm da certeza inconsciente de que já viemos de outro lugar.
Em meio a este corriqueiro caminhar, vejo e ouço paisagens a todo momento. Fecho meus olhos e respiro... num instante me permito não estar ali,transporto-me ,transponho-me sobre sons familiares,pessoas e sensações as vezes infantis.
Sigo num fluxo descompassado do som opressor de fora.Ouço as batidas do coração,ora allegro,ora adagio,ora largo,ora vivace.Mergulho dentro de mim e me vejo infinito.
A tanta música em mim,a tanta dança em meus pés,a tantos de mim...guardado em secreto esperando ser luz e voz,movimento bradado ao mundo de forma libertadora!Para não mais me sucumbir aos ruídos que insistem querer habitar aqui dentro.
Exprimo memórias,busco serenidade em lugares que só existem em mim mesmo.
Sou pra mim caminho íngreme e exaustivo.E sigo de olhos fechados dentro de mim a caminhar...
Na estrada vejo sol de verão,brilha esplendorosamente, me fazendo sorrir com os olhos e refletir a minha volta a paz de estar iluminado. (Pego-me rindo,abro os olhos para esse cotidiano opressor,sinto-me inabalável!Fecho os olhos novamente e volto subitamente para dentro.)
Existem momentos em que o cansaço chega e o semblante ,como folhas secas, cai.Nessa hora vejo nascer em mim motivações maiores para frutificar a esperança.
O tempo passa e já sou primavera,forte,jovem,frondoso e revigorado,prossigo fazendo ver a alegria que jorra...
O frio pode chegar e com ele a sequidão gerada pelas incertezas,temores e novos desafios,mas sei que sempre haverá abrigo e abraços calorosos em meio a tempestade.
Sabendo das estações que sou e das músicas existentes e mim eu continuo  percebendo ao meu redor a beleza nas coisas ordinárias e coleciono em mim fragmentos de tudo que possa ser parte desse arquipélago que sou.


Escrito ao som de "A última estação."

sábado, 19 de outubro de 2013

Espera

A vida toda fugi do tempo de espera,a começar pelo nascimento.Não consegui esperar nove meses para nascer o com sete quis conhecer o mundo.
Cresci em certa impaciência,gerando sonhos secretos,mundos imaginários e infantis quais retratava em muitos desenhos em papeis quaisquer.Brinquedos estimados eram meus lápis e cadernos...
Cresci aprendendo que o tempo apura o desejo e que ele tem o poder de discernir o que é eterno e o que se corrói.
Aqui,nesse pequeno tempo de espera cotidiana,em relances de impaciência,penso na minha vida num fluxo vai e vem que ansiosamente aguarda a chegada.
Pra onde vai?Ainda não sei,mas a certeza que tenho é por haver espera...mas a impaciência...
essa impaciência me faz andar em círculos iludindo-me em movimento pra não perceber que a vida também é feita de pequenas pausas.Nessas paradas a gente respira e retoma coragem pra enxergar e seguir novos rumos...
Espera...
espero na esperança que alivia a impaciência de esperar.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O tempo e o vento

Permita-me a conveniência do teu abraço
Esconda-me nos braços teus e deixe-me esquecer que o tempo engole minha juventude
Furor do tempo que não perdoa,
ecoa o que lancei em lamentos,iras e tormentos deixando marcas,rugas

Na incerteza do tempo que acalenta,destrói,completa e reconstrói
Lanço-me nesse espaço (de tempo) a dançar
Compasso incerto,palavras ao vento para uma estranha e familiar melodia formar

Teu abraço é refúgio efêmero,instante mágico que pode aliviar
Antídoto do lamento
Com o vento você vai e no vento tudo se esvai a mercê do tempo.



Em um momento de nostalgia ao som de "Catavento" - de Letícia Persiles.